A primeira fabricante a se propor a produzir uma placa aceleradora 3D para desktops foi a S3, que em 1995 lançou a S3 Virge. Ela utilizava uma GPU modesta, que operava a 66 MHz e utilizava 4 MB de memória, compartilhados entre o frame-buffer e as funções 3D.

A S3 Virge era compatível com uma grande quantidade de efeitos derivados do OpenGL, mas oferecia um desempenho muito baixo, a ponto de um simples Pentium 1 renderizando via software oferecer um desempenho melhor que a própria GPU. Ela foi seguida por placas como a ATI Rage II e a Rendition Verite 1000, que eram igualmente limitadas.

O primeiro chipset 3D competitivo foi o Voodoo 1, lançado pela 3Dfx no final de 1996. Ele era um chipset relativamente simples, com apenas 1 milhão de transístores (o mesmo que o 486), que operava a 50 MHz, com uma capacidade de processamento de 1 milhão de polígonos por segundo e um fill-rate de 50 megapixels. Apesar de limitado, o chipset se saía bem em jogos otimizados para o Glide, o que fez que o uso da API crescesse rapidamente.

O Voodoo 1 foi utilizado em placas de diversos fabricantes (assim como fazem a nVidia e a ATI atualmente, a 3Dfx apenas fabricava o chipset), incluindo a Diamond Monster 3D, que acabou sendo o modelo mais conhecido. Todas as placas equipadas com o chipset Voodoo possuem apenas 4 MB de memória, onde 2 MB são reservados para o armazenamento de texturas.

Em 1997 foi lançado o Riva 128 (NV3), que marcou a entrada da nVidia na disputa. Ele era um chipset bastante moderno para a época, com 3.5 milhões de transístores, clock de 100 MHz, fill-rate de 100 megapixels e um RAMDAC de 206 MHz para as funções 2D. A versão original possuía apenas 4 MB de RAM, que foram expandidos para 8 MB com o Riva 128 ZX.

Em termos de desempenho bruto, o Riva 128 era bem mais rápido que o Voodoo. O grande problema era a falta de compatibilidade com o Glide, que na época era a API que oferecia a melhor qualidade visual. O DirectX ainda engatinhava com a versão 5 (que oferecia gráficos muito pobres) e o OpenGL ainda não era utilizado por muitos títulos além do Quake. Apesar disso, o relativo baixo custo e a combinação das funções 2D e 3D fez com que as placas baseadas no Riva 128 se tornassem bastante populares:



O concorrente direto da ATI foi o Rage Pro. Embora o clock do chipset fosse mais baixo (75 MHz, contra os 100 MHz do Riva 128), a Rage Pro utilizava 8 MB de RAM (posteriormente expandidos para 16 MB) que acabavam equilibrando as coisas.

O grande problema era a falta de um driver OpenGL maduro, o que limitava a compatibilidade da placa e fazia com que o desempenho ficasse abaixo do normal em diversas situações. Isso acabou manchando a imagem da ATI, que demorou vários anos para conseguir superar o estigma de "hardware bom, drivers ruins".

A 3Dfx respondeu em 1998, com o lançamento da Voodoo 2, que logo se tornou a placa de maior sucesso da empresa. Em vez de utilizar uma única GPU, como de costume, a Voodoo 2 era composta por nada menos do que três chips (dois chips TexelFX e um PixelFX), cada um com um barramento de 64 bits próprio com a memória. Além de ser de 3 a 5 vezes mais rápida que a Voodoo original, a Voodoo 2 trouxe um recurso inédito até então: a possibilidade de instalar duas placas em SLI, utilizando um sistema primitivo de divisão de processamento, onde as placas renderizavam linhas alternadas de cada frame (essencialmente dobrando o desempenho) e a imagem era recomposta antes de ser enviada ao monitor.

Embora usar duas Voodoo 2 em SLI fosse uma solução cara (cada placa custava US$ 250), ela acabou se tornando relativamente popular, garantindo uma boa sobrevida para as placas. Duas Voodoo 2 em SLI oferecem um desempenho competitivo com o de uma nVidia TNT2 Pro, com a vantagem de também permitirem rodar os jogos em Glide.

Tanto a Voodoo 1 quanto a Voodoo 2 eram apenas aceleradoras 3D, que precisavam ser usadas em conjunto com outra placa de vídeo qualquer, que se encarregava das funções 2D. A placa 2D era ligada à Voodoo através de um cabo pass-thru e o monitor era ligado à saída VGA da Voodoo:



Ao usar duas Voodoo 2 em SLI, eram usados dois cabos, com a imagem indo da placa 2D para a primeira Voodoo 2, dela para a segunda e só então para o monitor. O sinal era transmitido em formato analógico por todo o percurso, o que causava uma pequena degradação na imagem, bastante perceptível em resoluções superiores a 1024×768.

A ideia de uma aceleradora exclusivamente 3D foi abandonada a partir da Voodoo Banshee, que incorporou funções 2D, eliminando a necessidade de uma placa separada. Isso marcou o fim da linha para as aceleradoras 3D dedicadas, já que com o avanço das técnicas de fabricação, as funções 2D passaram a ocupar uma proporção cada vez menor dos chipsets de vídeo.

O lançamento do Voodoo 2 permitiu que a 3Dfx recuperasse parte do terreno perdido, mas não demorou para a nVidia e a ATI voltassem ao ataque, com o Riva TnT e o Rage 128.

O Riva TnT (lançado pela nVidia em 1998) trabalhava a um clock ligeiramente mais baixo que o Riva 128 (apenas 90 MHz), mas em compensação era equipado com duas unidades de processamento de texturas e dois ROPs, o que resultava em um desempenho bastante superior, com um fill-rate de 180 megapixels e o processamento de 6 milhões de polígonos por segundo.

Ele foi sucedido pelo TnT2, TnT2 Pro e TnT2 Ultra, versões levemente modernizadas, que receberam pequenas melhorias nas unidades de renderização e no acesso à memória e eram capazes de operar à frequências mais altas (125, 143 e 150 MHz, respectivamente). Pouco depois foi lançada também uma versão de baixo custo, o TnT 2 M64, que utilizava um barramento com a memória de apenas 64 bits.

Toda a série TnT é compatível apenas com o DirectX 6 e o OpenGL 1.1, por isso (mesmo desconsiderando a questão do desempenho) elas não são de muita utilidade ao rodar jogos atuais. Entretanto, elas ainda podem ser usadas para jogar uma partida de Quake III Arena.

O Rage 128 (também lançado em 1998) foi o primeiro chipset de sucesso da ATI. Assim como o TnT, ele utilizava um barramento de 128 bits com a memória e era capaz de renderizar dois pixels por clock. Os drivers também melhoraram em relação ao Rage Pro e a ATI conseguiu até mesmo produzir um driver OpenGL utilizável, o que permitiu que ele concorresse em pé de igualdade.

A versão original (que operava a 90 MHz) foi sucedida pelo Rage 128 Pro, que mantinha as mesmas características básicas, mas operava a 125 MHz e utilizava chips de memória mais rápidos. Assim como no caso da nVidia, foi lançada também uma versão de baixo custo (o Rage XC) que utilizava uma barramento de apenas 64 bits com a memória.

Em outubro de 1999 a ATI surpreendeu com a Rage Fury MAXX, a primeira a trazer duas GPUs instaladas na mesma placa, utilizando um sistema similar ao usado pela 3Dfx na Voodoo 2, onde uma GPU renderizava as linhas pares e a outra as linhas ímpares da imagem, essencialmente dobrando o frame-rate. Com o tempo, a tecnologia foi aperfeiçoada, dando origem ao ATI CrossFire, usado nas placas atuais.



O rápido crescimento nas vendas de placas 3D criou uma espécie de corrida do ouro entre os fabricantes, que se apressaram em tentar explorar o novo mercado.

A Rendition lançou as Verite V2100 e V2200 (que eram baratas, mas ofereciam um desempenho muito fraco), a S3 lançou a Savage 3D (que oferecia um desempenho competitivo em relação à Riva 128, mas pecava pelos drivers problemáticos), a Matrox atacou com as G200, G220 e G250 (que ofereciam uma boa qualidade de imagem em 2D a altas resoluções e um desempenho 3D competitivo, mas eram caras), a Trident ensaiou o lançamento de uma placa 3D com a Blade3D (que era barata mas oferecia um desempenho 3D muito fraco) e até mesmo a Intel fez sua tentativa, com a i740, que era barata, mas também oferecia um desempenho muito fraco, mesmo para a época:



Infelizmente (pelo menos para quem gosta de ver competição entre os fabricantes), nenhuma das empresas conseguiu atingir um volume sustentável de vendas.

Depois das fracas vendas das Verite V2100 e V2200, a Rendition acabou sendo comprada pela Micron, que tentou sem sucesso desenvolver um chipset 3D onboard para uso em placas-mãe. A Trident conseguiu uma pequena sobrevida no ramo de chipsets onboard desenvolvendo o chipset 3D integrado ao chipset VIA MVP3, mas passou por dificuldades e acabou sendo comprada pela XGI.

A Savage se manteve na ativa por mais dois anos, produzindo o Savage 4 e o Savage 2000, mas acabou sendo comprada pela VIA, que usou os projetos como base para o desenvolvimento dos seus chipsets de vídeo onboard, dando origem ao ProSavage e mais tarde ao UniChrome.

A Matrox conseguiu se manter competitiva por algum tempo, lançando as G400 e G450, duas placas que fizeram um certo sucesso dentro do ramo profissional. Embora caras, elas ofereciam um desempenho 3D competitivo, drivers OpenGL bastante maduros e o suporte ao Dual-Head, que foi o primeiro sistema para o uso de dois monitores em uma única placa de vídeo para PCs. Entretanto, o rápido avanço das concorrentes fez com que elas caíssem rapidamente em desuso. A Matrox continua ativa até os dias de hoje, produzindo placas para o ramo profissional e outros produtos, mas nunca foi capaz de lançar outro chipset 3D competitivo.

A Intel conseguiu empurrar um grande volume de unidades da i740 vendendo as placas com margens de lucro reduzidas (ou até mesmo abaixo do custo) para integradores de PCs, mas acabou desistindo da briga depois de algum tempo. Em vez de insistir no desenvolvimento de placas dedicadas, optaram por transformar o i740 em um chipset de vídeo onboard, dando origem à série Intel GMA, que, apesar do desempenho, foi produzida em escala massiva, equipando tanto desktops quanto notebooks.

Outra vítima foi a própria 3Dfx, que embora tenha praticamente inventado o ramo de placas 3D domésticas, acabou sendo atropelada pelas concorrentes.

O último chipset de sucesso da empresa foi o Voodoo 3, lançado em 1999. Ele foi basicamente uma versão atualizada do Voodoo 2, que suportava frequências de clock mais altas, possuía um chipset 2D integrado (assim como no Banshee) e trazia uma lista levemente atualizada de recursos, incluindo suporte a multitexturing e a resoluções de vídeo mais altas, derrubando o limite de 800×600 do Voodoo 2. Ele foi usado nas Voodoo 3 2000, Voodoo 3 3000 e Voodoo 3 3500, que se diferenciavam pela frequência de clock (143, 166 e 183 MHz, respectivamente).

O Voodoo 3 era competitivo em relação às Riva TnT2 e Rage Pro. O problema é que ele chegou atrasado ao mercado e acabou competindo com a GeForce 256, que era consideravelmente mais rápida. Outro fator que prejudicou as vendas foi a decisão da 3Dfx de comprar a STB (na época uma das grandes fabricantes de placas de vídeo) e passar a fabricar suas próprias placas, deixando de vender chipsets para outros fabricantes. Além de atrasar o lançamento das Voodoo 3, a decisão afastou muitos dos antigos parceiros, que passaram a encarar a 3Dfx como uma concorrente.

A última cartada foi o lançamento do VA-100, uma versão levemente aperfeiçoada do Voodoo 3, que era capaz de renderizar 2 pixels por ciclo e oferecia um conjunto atualizado de recursos 3D, com suporte a texturas de 2048×2048, compressão de texturas e outros truques suportados pelo DirectX 6.

Ele deu origem à Voodoo 4 4500 (um único chipset e 32 MB de RAM) e à Voodoo 5 5500 (dois chipsets e 64 MB), mas ambas as placas fizeram pouco sucesso, já que eram caras e ofereciam um desempenho inferior ao das concorrentes diretas (as GeForce 2 MX e GeForce 2 GTS no caso da nVidia e as Radeon 7000 e 7200 no caso da ATI):



A Voodoo planejava lançar também uma placa quad-GPU (a Voodoo 5 6000), mas ela acabou nunca chegando ao mercado. Com a 3Dfx saindo de cena, o terreno acabou ficando livre para a nVidia e a ATI, dando início à briga que continua até os dias de hoje.

Fonte: GDHPress